Vai ficar tudo bem.
Quando descobri que estava grávida tive um dos maiores momentos de introspecção e de dúvidas da minha vida.
Tentei explicar, com delicadeza, que cuidando com carinho e com amor da nova vida que crescia em mim, vivia simultaneamente um momento de muita incerteza. Eu... que sempre sonhava ter sido mãe não estava a conseguir lidar com a concretização desse sonho do qual já tinha desistido.
Depois vieram os enjoos, veio um corpo em constante mudança, veio o repouso absoluto. Cada dia que passava tudo se tornava um bocadinho mais real. Mas nunca tão real assim...
No dia em que a Vitória nasceu a sala de partos esteve algum tempo em silêncio. Não sei precisar a fracção de tempo : milésimos de segundos talvez... uma eternidade para mim. O meu novo coração de mãe gelou.
Mas antes disso senti que seria a Vitória que me ia perder. Não tive medo de nada. Absolutamente nada. Pensei na minha mãe e agonizei o sentimento de uma mãe perder uma filha. Depois pedi ao pai da Vitória que me prometesse que seria bom e paciente com ela.
Correu tudo bem e rapidamente se confirmou o que toda a gente diz : ser mãe é inato. Na verdade, ser mãe é um momento de aprendizagem constante, enquanto a bebé aprende a viver nós aprendemos a lidar com a nova vida.
Falar da maternidade exige a minha maior sinceridade: não é fácil. É verdade que o nosso Eu se transforma, como se o Ser que vivia até então dentro de nós passasse a ter-nos dentro dele. E precisasse indiscriminadamente do nosso calor, do nosso carinho, da nossa atenção, do nosso alimento e da nossa segurança. Este sentimento é avassalador. Se por um lado a nossa vida tem um sentido e um propósito por outro lado exige que saibamos ser altruístas. Ou por outra, que lidemos bem com isso 24 horas por dia. E posso assegurar que nem sempre é fácil, nem sempre é bonito, nem sempre é simples ou descomplicado. Todos os dias sinto que a minha vida está em suspenso até poder voltar a ser vivida. Acredito que volte a ser uma aprendizagem. Nada será como antes : nunca mais.
Pela primeira vez senti medo de morrer. Porque pela primeira vez senti que a minha existência poderia ser fulcral para o bem estar de outro ser. Quis-lhe explicar uma coisa que ainda não pode entender: vai ficar tudo bem.
Todos os dias preciso de me deitar com a certeza de que a fiz sentir-se amada. Não só quando me devolve o sorriso mais doce do mundo mas também quando chora desesperadamente e não a sei consolar. Peço-lhe desculpa. Muitas vezes por dia. Especialmente nesses momentos em que quase perco o chão por não a saber tranquilizar.
Meu Amor, tudo o que preciso que saibas é que não te poderia ter sonhado mais perfeita.