Todas As Coisas Maravilhosas.
Voltei a ouvir os meus discos todas as tardes quando chego a casa, voltei a passar o meu café: a inundar a casa com aquele cheirinho bom do café. Voltei a dormir com dois pares de meias, a ficar no carro a ouvir a música até ao fim, voltei a deixar derreter um quadrado de chocolate na boca... voltei a fazer muitas coisas que me dão um prazer especial. E voltei a fazê-las porque fiz uma coisa que amo : fui ver uma peça de Teatro que conseguiu tocar a minha vida.
Tenho uma rubrica semanal na RFM e uma destas semanas cheguei ao estúdio e estava lá o Ivo Canelas como convidado. Estava lá para falar do seu novo espectáculo que estreava uns dias depois, e fiquei ali a ouvi-lo falar... e a sentir-me completamente desligada de uma coisa que eu gostava tanto : espectáculos. Sou licenciada em Teatro, escrevi sobre teatro para a Sábado e por isso sabia todas as agendas culturais de cor e salteado. Hoje em dia passa-me quase tudo ao lado. E ao mesmo tempo que ficava meio frustrada por essa constatação... ficava super curiosa com os detalhes que ia ouvindo sobre o espectáculo. Pensei : vou ver. E fui.
Acabei por ir sozinha - e encontrei IMENSA gente conhecido no Estúdio Time Out, que bom - e foi tão bom. Neste momento - e tendo em conta que o espectáculo está mesmo a terminar, espero que haja uma reposição ETERNA - já muita coisa foi revelada, e não há grande possibilidade de vos arruinar a experiência com spoilers, mas vim de lá tão leve... chorei, ri muito, pensei TANTO. Em pouco mais de um hora vemos um actor gigante ( continuo a achar o Ivo Canelas um dos melhores actores portugueses ) a contar uma história e a fazer-me acreditar que é a sua ( apesar de não ser ), a história de uma pessoa que é criança e é adulto e vai vivendo uma vida marcada pelas várias tentativas de suicido da mãe. Uma criança que com 7 anos começa a escrever a lista de Todas As Coisas Maravilhosas ( que dá o nome ao espectáculo ) para tentar mostrar à mãe que há coisas na vida pelas quais vale a pena viver. Caramba... e há mesmo! Com o passar do tempo o tipo de coisas que estão na lista alteram-se. O propósito da lista também e nós vamos crescendo naquela lista, naquele propósito. Vamo-nos emocionando com o caraças do miudo. Vamo-nos revendo nas coisas maravilhosas, encaixando as nossas coisas maravilhosas, revivendo aquela intenção e de certa forma aquelas emoções e frustrações. Como se andássemos com ele no carro, com ele na faculdade, com ele na vida... E inspira-nos. Ou pelo menos podemo-nos deixar inspirar e valorizar as nossas coisas maravilhosas. E voltar a ouvir os nossos discos, voltar a viver as coisas que fazem com que tudo valha - de alguma maneira - a pena. Porque vale. Tanto como vale a pena ver este espectáculo.