Mercado de Santos - O meu Texto sobre o Amor.
Quando me contactaram da organização do "Mercado de Santos" para escrever uma história de Amor, ou sobre o Amor... respondi que não conseguia. Que não tinha nada de verdadeiramente inspirador para contar. Nada que acalentasse ou motivasse alguém a acreditar.
Mas houve um argumento maior que me convenceu a escrever.
Para quem não sabe o Mercado de Santos é "o mote para os eventos solidários realizados, periodicamente, no Porto. A organização, a cargo de um grupo de voluntários com um grande coração e muita força de vontade, procura promover o espírito solidário, recuperar laços de comunidade e vizinhança e apoiar causas humanitárias. Todos os lucros obtidos com a organização dos eventos revertem para causas previamente identificadas."
A próxima edição será dia 1 de Fevereiro, mas podem saber tudo na página de Facebook do Mercado de Santos .
A tua forma de dizer Amor.
Nunca soube o que era o Amor nos outros.
Sei o que Amo, sei como o sinto, mas demoro a compreender o que é o Amor dos outros.
Sei o quanto me custa verbalizar “Amo-te”. E o frio na barriga que senti a última vez que o disse pela primeira vez. O som daquela palavra, sussurrado ou gritado, tem uma vibração demasiado intensa.
Era assim que ia compreendendo o Amor dos outros. Nunca saberei o que sentem, mas posso acreditar que o sentem quando dizem : Amo-te.
Nunca dizes que me Amas. São algumas as alturas em que dizes que gostas de mim. Principalmente quando somos confrontados com coisas sérias. Dizes “tu sabes que gosto de ti.” e e eu diria “Eu só sei isso porque acabaste de o dizer.”, mas sempre calei essa resposta e ainda bem que o fiz.
Do hábito da ausência da expressão veio a reacção ao Amor alheio. Raras são as vezes em que ao ver alguém conjugar o verbo Amar não me comovo.
Do tempo ou da necessidade veio finalmente a compreensão.
O teu Amor é quereres sempre perceber o que se passa comigo e ficares sentido se falo mal contigo ou se tenho menos paciência. É tapares-me os pés quando a manta fica mal ajeitada e apareceres com um grande copo de chá porque eu adoro. Deixares-me chorar anormalmente quando estou a escrever e - não compreendendo o porquê das lágrimas - saberes que não é momento para fazer perguntas. São as canecas de café e as torradas de pão escuro pela manhã. E reclamares se o meu verniz estalou ou se o cabelo está despenteado. É a tua falta de vontade para muitas das coisas de que gosto e acima de tudo a transparência desse enfado. É o orgulho que mostras quando me ouves falar com outras pessoas. A forma como aprendemos a adormecer juntos e como o fazemos tantas vezes a rir. É receber uma mensagem durante o dia para beber um abatanado e conversar, só porque sim.
Eu não posso fingir que foi fácil. Ainda não é. Mas sei que é bonita a forma como me tratas, o respeito que tens pela minha forma estranha de ser. Vou aprendendo a viver com o que não ouço e a saber que :
Trazes “Amo-te” nas coisas que fazes.
Ana Gomes
Janeiro 2014