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A Melhor Amiga da Barbie

Maternidade : a Amamentação.

28.10.17 | Ana Gomes

 

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Andei vai não vai para escrever este texto... 

Mas quanto mais compreendo que me procuram para desabafar sobre a maternidade... mais vontade tenho de falar de tudo. Mesmo daquilo que não corre como previsto. 

 

Há uma coisa que é lixada e que acontece mesmo... e é a perda de memoria. Não sei porque... mas acontece! Então há coisas que aconteceram quando a Vitoria nasceu que já estão completamente nubladas na minha cabeça. 

 

Mas hoje venho falar da amamentação e de como a maior lição que a maternidade me deu foi: não adiantam os planos... adianta ter confiança para  improvisar. 

Ora eu tinha vários sonhos : dois deles eram bastante óbvios para mim - um parto natural e amamentação exclusiva ate aos 6 meses. E eu bem tentei ter um parto natural... mas como já partilhei convosco no final da tarde fui levada para uma cesariana de urgência. 

 

Quando - no recobro - deitaram a Vi ao meu lado, a enfermeira de serviço disse : este bebe nunca vai mamar. Ainda meio atordoada da explosão de emoção, cansaço e epidural, lembro-me de ter olhado para a minha mãe com uma expressão que dizia : como assim?! 5 Segundos depois apresentam-me um mamilo de silicone e explicam-me que a Vi tem a língua ainda virada para trás o que dificulta - e muito - o movimento de sucção. Convido-vos a enrolar a língua para trás e a tentar sugar alguma coisa... já tentaram? Pois... Mas na minha cabeça apenas e só um pensamento : que todos se lixem. Quero dar de mamar. 

 

E dei. Estava radiante porque tudo parecia acontecer. Eu pegava na Vitoria como se toda a vida tivesse andado com ela ao colo, e colava-a ao meu peito... tão satisfeita por ter sido feita para alimentar o meu bebe. As dores horriveis na cicatriz eram nada quando aquele momento de amor acontecia. Mas heis que chegadas ao segundo dia de vida e a Vi tinha perdido mais peso do que seria suposto - agravado pelo facto de já ter nascido muito pequenina. 

"Este bebe vai mamar já suplemento". Não. Não quero. Tragam-me a bomba de leite. Implorei ao Pai da Vitoria para que não lhe desse o biberon... sob pena de ela se habituar e não querer a mama. Mas nada de bomba... a minha obstetra visitou-me e garantiu-me que o leite estava a subir e que tudo iria acontecer. Sem Stress. Ao terceiro dia... o peso diminuía e os fundamentalismos trocaram-se por lágrimas. Primeiro a minha mama... depois o biberon. No qual - sejamos sinceros - ela também não mamava. Fomos para casa com recomendações serias sobre o controlo do peso e sobre o suplemento - totalmente obrigatório. 

A minha mãe foi - como sempre - incansável. Ajudou-me na pega da mama, na posição da Vitoria, cozinhou-me todos os alimentos conhecidos por aumentar a produção de leite, teve a paciência para me guiar em todos os momentos de amor necessários, ajudou-me com a bomba ( que ja tinha em casa ) e tive zero sintomas de subida de leite ou mastites. Nunca tive dores, mau estar, mamas a doer horrores... nada. Todos os dias oferecia o meu peito a Vi, depois o suplemento e depois tirava leite. Penso que só quem passou por isto consegue compreender os níveis de cansaço. Num processo de amamentação que acontecia de 2 em 2 horas... nos entretantos eu ainda tinha de me sentar ligada a preciosa bomba automática da Medela para tentar aumentar a produção de leite e oferecer-lhe - sempre que possível - o meu leite. Creio que nos primeiros tempos dormi 20 minutos seguidos em cada 2 horas de vida ( se tanto ) . 

 

Ate que a irritação dela começou. E não era pêra doce. As cólicas chegaram na segunda semana de vida... e a irritação com a mama era um caso ainda mais serio. A Vitoria berrava tanto, mas tanto... que um dia a Isabel - que nos ajuda em casa dos meus pais - entrou de rompante no meu quarto a achar que alguma coisa tinha acontecido. Não.... era só eu que tentava que a Vi mamasse. Foi - presumo eu - este estado de nervos que fez com que o leite deixasse de aparecer. Cheguei a estar uma hora sentada no sofá, olheiras profundas, com a bomba a magoar-me inexplicavelmente e nada de leite. Ate que - praticamente - 2 meses depois desisti. 

 

Parece fácil. E a esta distancia também me soa a uma historia bastante simples e lógica. Mas não foi tão fácil ou leve assim. Chorei bastante, senti-me menos, senti-me incapaz, senti que numa calamidade eu não poderia alimentar o meu bebe, senti que não tinha propósito na existência dela e que a partir de agora tudo seria diferente ( e indiferente ). Poderei culpar as hormonas... mas também poderei atribuir este sentimento aquela ideia que quis interiorizar de que o melhor que poderia fazer pelo meu bebe seria dar-lhe leite materno exclusivamente. E sim... essa seria a opção. Se isso tivesse acontecido naturalmente. Não sinto que não tentei, não sinto que tenha desistido, sofri um bocado - bastante na realidade - e aceitei finalmente que o melhor para o meu bebe era crescer saudável. Com o leite que houvesse e que a alimentasse. 

 

Por isso - sociedade - menos julgamento e mais Amor :) 

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