Encontramo-nos em 2018.
Estou com bastante dificuldade em conseguir escrever sobre 2017.
Decidi fazê-lo apenas porque sei que - um dia - precisarei de regressar a este texto para trabalhar este sentimento.
Quanto mais o tempo passa mais tenho medo das palavras. Se há momentos em que aquilo que sinto - quando se transforma em texto ou se ouve em voz alta - me faz sentir uma pessoa pouco grata... também há outros em que falar da minha vida é expor também outras vidas e nem sei até que ponto isso é justo.
Este ano senti que a minha vida foi morna. Verdade seja dita que os anos anteriores foram muito importantes para mim : senti que ultrapassei finalmente a barreira de uma doença que me fez aproveitar pouco algumas coisas na minha vida... e assim que senti que esse sentimento estava fixado... a vida lançou-me outro desafio. O maior que poderia receber e aquele para o qual muitas vezes me sinto pouco preparada. Não é segredo para ninguém que a ideia da maternidade não foi um mar de rosas para mim. 2016 foi o meu expoente máximo no que disse respeito a viagens - e isso foi maravilhoso: não só as viagens por si só mas o que representaram - a liberdade de ir, a capacidade de adaptação e a fluidez com que tudo se fez. 2017 foi um travão. Quando tento olhar para este ano, quando mergulho em fotografias... as memórias são nebulosas, são muito circulares e parece que na realidade nada aconteceu.
Naturalmente que o facto foi : tudo o que aconteceu este ano representou uma mudança tão significativa na minha vida que a conclusão a que chego é que ainda não me consegui habituar a tudo isto. Creio que não poderia amar mais a minha filha. Sei que a minha essência é a mesma. E os factos resumem-se facilmente : aquilo que gostaria de fazer na vida e aquilo que a vida me permite fazer são coisas muito diferentes. Como se finalmente me tivesse encontrado e tivesse começado a pensar em mim e quando isso finalmente aconteceu... passei a ter de viver para outra pessoa. Volto a dizer que não a podia amar mais.
Passei a ter medos que nunca tive : medo que me acontecesse alguma coisa, por exemplo. Medo que alguma coisa possa faltar à minha filha, que eu deixe de estar presente ou que não esteja presente quando isso for realmente importante para ela. Vivo para o conforto dela, para que esteja feliz, bem, em paz, confortável.
Preciso de aprender a saber viver assim. Preciso de me voltar a encontrar no meio de tudo isto. Preciso de conseguir parar no meio de todas as rotinas que não permitem que se abrande nem um bocadinho. Preciso de me reorganizar e de perceber como seguir o meu caminho... ou qual o novo caminho a seguir. A verdade é que se pensar a sério no assunto deixei tudo por fazer. Tudo menos tudo o que um bebé implica.
Em 2018 tenho de encontrar o espaço para perceber que o meu novo tempo é este tempo. Que se divide a vida assim. 2018 terá de ser o ano para aceitar que esta é a minha vida. Porque se esta é a minha vida de nada vale viver a sonhar com outra. Este final de 2017 foi pouco confortável. Física e emocionalmente. Estou muito cansada, muito instável e de certa forma desapontada por sentir tudo isto.
Não costumo ter resoluções de fim de ano. Mas a ideia de um calendário em branco é tentador. O ano começa com o meu aniversário e com aqueles numeros redondos que nos deixam a reflectir um bocadinho mais. E a verdade é que ninguém pode fazer mais por mim do que eu própria.
Há momentos em que culpo os livros que li, os filmes que vi... acho que tendemos a ficar desapontados com a nossa realidade quando conhecemos ou pensamos em realidades diferentes - e idealmente - melhores que as nossas.
Sem precisar de espremer muito o assunto sei que sou uma sortuda. Tenho uma familia incrivel, uma filha de sonho, uma casa onde me sinto feliz e confortável. E acreditem que sou muito grata por isto tudo.
Aquilo de que preciso tenho de saber encontrar em mim. <3
Um maravilhoso Ano! Encontramo-nos em 2018.